quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Desde novo eu tive problemas pra lidar com a sociedade. Não sei se é porque fui mimado e compreendi uma noção de sociedade que se adapta a mim ao invés de me adaptar à ela, ou se é porque tenho tendências genéticas naturais. Talvez os dois.
A realidade é que nunca procurei ajuda médica e nunca vi sentido nessa busca, já que sempre me considerei normal. Apesar disso, meus pais sempre tiveram um pé atrás e por volta dos meus 13 anos até cogitaram uma consulta psiquiátrica que eu me neguei a ir fortemente.
Anos se passaram e eu nao me controlei devidamente até encontrar no amor td a subsistência dos meus traços anti-sociais. O desejo de satisfazer a pro´pria vontade , muitas vezes em detrimento da vontade do outro, o desejo de ser amado e reconhecido por quem, às vezes, está em outra. o desejo de "aparecer".
o que claramente comporta-se como traço obsessivo em mim, as vezes passa despercebido por outros que me encaram de uma perspectiva mais natural.

Foi num desses amores (numa dessas crises) que eu decidi que precisava de ajuda médica e decidi que precisava de ajuda psicoterápica. e de fato eu estava certo.

passei então a frequentar o serviço de psicologia aplicada da estácio de sá , que pareceu surtir algum efeito ao revelar traços da miinha personalidade, antes nunca observados por mim.
com o tempo, fui achando cada vez mais necessária a participação de um profissional e procurei um psicólogo formado que atende em plantões da Santa Casa de Misericórdia.

Se por um lado eu tenho consciência de que sou anti-social, por outro eu sei que o único meio de quebrar isso é exercer certa sociedade. Pensar nos outros, agir em prol dos outros, ajudar ao outro são coisas que mesmo não vindo naturalmente, ao serem exercitadas dão ao sujeito ensinamento de como viver em sociedade.

não aprendi isso em psicoterapia. aprendi refletindo numa frase de meu pai que diz ser eu uma pessoa egoísta. (e defato egoísmo caracteriza um anti-social)

Sendo assim, la fui eu para minha terapia semanal que da espera ansiosa não resulta nada mais que alívio momentâneo e esperança de um dia acabar com minhas angústias.

Observo no corredor do hospital pessoas com os mais variados problemas : acidentes vasculares, acidentes mecÂnicos, desgaste natural da vida entre coisas mais. Estava eu entretido a observaros problemas físicos da vida e buscar soluções metafísicas para a minha vida baseando-me neles e  eis que me surge, uma senhora de idade, que aparentemente não sabia ler nem escrever, procurando por um consultório.

Eu olhei para ela e pensei que ela se viraria sozinha, porém subitamente acreditei que eu deveria pensar nos outros e agir em prol dos outros, mesmo que aquilo não fosse minha tendência natural. Imediatamente levantei e fui perguntar a ela o que ela precisava.
_A sra está procurando alguma coisa?
_meu filho, lê aqui pra mim, estou sem óculos.
(nesse momento tive a impressão de que a vergonha de não saber ler tomou conta da velha)

tendo lido o comprovante da consulta, fui procurar o tal consultório e a medida que encontrei corri de volta para avisar àquela senhora o lugar correto a se dirigir. Voltei feliz.
Acho que nem várias horas de terapia semanais poderiam me beneficiar mais do que esse pequeno ato. Evidentemente que se trata dum ato pequeno, mas que me fez bem. aquela senhora iria encontrar dificuldades para se dirigir ao consultório e teve suas dificuldades minimizadas. Penso eu ainda que centrado nos meus problemas existenciais, apenas me consumo e que focar no problema dos outros e tentar saná-los é uma forma não só de negar o eu como centro, mas também uma forma de estender o eu numa sociedade.

No momento que voltei para minha espera (feliz) me deparei com duas mulheres, uma de idade mais avançada e outra de idade mais nova.
A mais nova sofria de depressão profunda e apenas ouvia o que a mais velha falava compulsivamente. eu assistia.

foi numa dessas conversas que parei para conversar com uma terceira mulher, mãe de um filho de 14 anos. Ela traz ele religiosamente às consultas psicoterápicas e faz isso com empenho, com amor, como se fosse pra ela mesma e enquanto espera o filho na consulta conversa com os demais pacientes sobre a vida.

E fui conversar com ela a fim de dar-lhe atenção e desviar meus pensamentos suicidas.

Dizia ela que batalhou imensamente pelo filho qnd ele nasceu. ele nasceu prematuro com apenas 1 kg e apesar de não apresentar nenhuma má-formação, manifestou anemia profunda alguns meses depois de nascer.
Penso nessa senhora, sacrificada, com um filho ainda novo no colo e sem saber o que fazer.
tendo procurado um pediatra, recebeu encaminhamento para um hematologista que prescreveu exames de sangue precisos.

Conta ela, que ao requerer o exame, o laboratório negava sua entrega. Isso a deixava abalada, pois não sabia qual o fundamento dessa negação.
Então num fim de tarde chuvoso, com o envelope na mão, ela se dirige ao consultório para encontrar uma resposta. (o homem passa a vida a procurar respostas de mais ou menos valia para o seu ser)
e lá ao saber que o doutor já tinha terminado o expediente, fez questão de descobrir sua moradia e de entregar o exame, já que se preocupava com seu filho. Uma chuva forte caía no início da noite e ao entrar na casa do médico e após ter uma conversa com ele ela ficaria apavorada.
_  asenhora tem condiçoes de cuidar do seu filho?
_doutor, se eu não tiver condições, criarei condições. respondeu ela

as vezes o pavor parece deprimir certas pessoas. em outras o pavor funciona como estimulante. Nesse caso uma luta em prol de outra. uma luta por amor.

E os medicamentos saíam custosos para aquela senhora sacrificada, sendo necessário vender até uma bicicleta do marido para patrocinar o tratamento do filho.

As vezes me pergunto, se esse menino é hoje um menino forte e sadio pelo tratamento ou se o é pelo esforço da mãe. Me pergunto se o tratamento mais eficaz do universo teria o mesmo efeito sem o esforço daquela mãe desesperada e valente.

Não penso, hoje, no amor como 1 conjunto de joguinhos egocêntricos e paparicos. apenas vejo a luta sem exitação pelo bem de outro , mesmo em detrimento do próprio bem e que não tem muito fundamento ou causa, apenas a propria benevolencia da alma humana que por sua propria natureza se inclina ao belo, ao bom e ao verdadeiro.

Ao olhar para esses amores egoístas que tive, que na verdade exigiam mais carinho e mimo do que amor,  sinto veergonha. Mas sinto orgulho por ter conhecido essa mulher simples, que nunca estudou metafísica, que nunca estudou matemática a fundo e nunca connheceu nada profundamente a cerca do universo, mas teve virtude. 


CARIDADE

aquela virtude de que paulo fala e que mais tarde camões se refere como amor é sim a manifestação mais nobre do homem. Pois o homem sendo animal inteligente  (capaz de conhecer) é capaz de conhecer o bem e pela vontade livre (diferente dos outros animais) desejá-lo bem como conhecer suas causas e efeitos além de desejá-lo ao próximo.

E a isso eu chamo de amor. Não o amor hipócrita que pensa em si mesmo, que acha que o mundo é uma fantasia de beijos e abraços puramente carnais, mas um amor puro e verdadeiro, que não difere homem de mulher, velho de criança ou namorada d de amigo. Um amor que busca acima de tudo o bem alheio, pois é isso mesmo a sua definição (bem-querer do próximo). Um amor que olha pra verdade ao invés de olhar pra si mesmo. um amor.

Reflitam caros companheiros. e tentemos construir um mundo melhor (de verdade, sem falsos altruísmos)